Em cinco anos, a PM do Estado
de São Paulo matou quase nove vezes mais do que a polícia norte-americana.
“
Entre os PMs
presos em São Paulo, metade é por homicídio 'Tropa está sob controle', diz secretário da Segurança
Pública”.
Dados obtidos pela Folha
mostram que, de 2006 a 2010, 2.262 pessoas foram mortas após supostos
confrontos com PMs paulistas. Nos EUA, no mesmo período, conforme dados do FBI,
foram 1.963 "homicídios justificados", o equivalente às resistências
seguidas de morte registradas em São Paulo.
Analisando as taxas de mortos
por 100 mil habitantes, índice que geralmente é usado para aferir a
criminalidade e comparar crimes em regiões diferentes, constata-se que no
Estado de São Paulo, com população de 41 milhões de habitantes, a taxa é de
5,51. Já nos EUA, onde há 313 milhões, a taxa é de 0,63.
Os números mostram que mesmo
adotando técnicas de redução de letalidade, a PM paulista ainda mata muito.
O método Giraldi, que orienta
o PM a atirar duas vezes e parar, tem sido deixado de lado. Especialmente desde
a segunda quinzena de junho, quando a tropa entrou em alerta, após a morte de
oito policiais militares.Segundo familiares de PMs
ouvidos pela Folha, os assassinatos dos colegas geraram um "grande clima
de tensão".
Para o defensor dos três
policiais presos acusados de matar o empresário Ricardo Prudente de Aquino, 39,
na última quarta, o homicídio foi uma fatalidade, e a causa, o "clima
constante de confronto nas ruas".
O empresário foi morto após
fugir de um cerco policial. Os PMs dizem ter confundido o celular da vítima com
uma arma.
"Meus clientes policiais
se queixam demais, especialmente nesses últimos dois meses, quando muitos deles
foram alvo de ataques", diz o advogado Fernando Capano. "Eles temem
sair para trabalhar e não voltar mais."
Um policial, amigo de um dos
oito mortos, concorda. "Os PMs do 23º batalhão [onde os três presos
trabalham] mataram esse rapaz no susto. Hoje, em qualquer reação de alguém, o
pensamento do policial é 'antes ele do que eu'", disse à Folha um
policial, que pediu anonimato.
TROPA CONTROLADA
O secretário da Segurança
Pública, Antonio Ferreira Pinto, disse anteontem não faltar treinamento aos PMs
e que o comando da corporação controla a tropa. "Controle absoluto",
garantiu ele.
"O comando está
plenamente tranquilo de que tem o comando nas mãos. Não há nenhuma precipitação
ou hipersensibilidade por parte dos policiais que trabalham na rua",
disse.
Procurada, a PM não se
pronunciou sobre a comparação da letalidade policial em São Paulo com a dos
EUA.
O comandante-geral interino da
PM, coronel Hudson Camilli, afirma que a ação que resultou na morte do
empresário foi "tecnicamente correta" porque houve a perseguição de
um suspeito que desobedeceu à ordem de parada.
Segundo ele, a credibilidade da
PM não está abalada e não houve crescimento da letalidade. Disse ainda que o
número de mortos em confronto com a PM está dentro da normalidade.
(André Caramante, Giba
Bergamim Jr. , E Afonso Benites)